Apresentamos a seguir o projeto de Vigliecca & Associados vencedor do concurso Anexo da Biblioteca Nacional, promovido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), e organizado pelo Departamento Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).
Dos arquitetos: A formação de um “cluster urbano” - expressão essa que não tem nenhuma referência a um tipo de formalismo vazio. Ao contrário, o solo urbano que este projeto propõe, com sua multiplicidade de rampas, intersecções, passagens públicas e elevadores, pretende a potencialização do território com um sentido claro aos usos de uma biblioteca pública e a outros diversos que permitam, motivem e induzam relações de intercambio intelectuais e sociais.
Em uma escala mais ampla, nosso objetivo é criar um polo de regeneração urbana que integre este equipamento junto a uma clara infraestrutura de mobilidade – como o VLT sobre a Via Binário – e que esteja, inclusive, em sintonia com a legislação da área de operação urbana da região Gamboa do Porto Maravilha.
Adotou-se a estratégia de dividir os núcleos de funções em três blocos, como “famílias” independentes: os dois blocos laterais e o bloco central. Assim, cada um terá condições espaciais, estruturais e de infraestrutura específicas, mesmo que ao final formem um corpo único.
Esses dois blocos Leste e Oeste, se inter-relacionam através de um espaço integrador central no térreo, como um cuore, por onde se instalam as suas principais comunicações e os seus fluxos, sobretudo o de pedestres: na vertical, através de rampas, escadas mecânicas e elevadores; e na horizontal, através de passarelas. No nível do mezanino, se estabelecerá também a interconexão de funcionários e de serviços entre as três torres dos elevadores, dos setores Leste, Central e Oeste.
Nossa concepção determina percursos claros e legíveis, no entanto, não são eles fixos ou únicos, como nas bibliotecas estáticas convencionais. Aqui os caminhos sempre abrem possibilidades para outros percursos, mas com clareza e legibilidade de destinos, uma flexibilidade para seu funcionamento, um deleite para o flaneur.
Está nesse projeto uma biblioteca a favor de uma dinâmica gestáltica: não há apenas uma soma literal de elementos isolados, senão o estabelecimento de uma solidariedade interna, onde cada elemento depende da relação com o conjunto. Temos, no entanto, a possibilidade de construção em setores autônomos sem descuidar para que, ao final, seja agregada forma a cidade.
Assim, dos múltiplos objetivos descritos acima que desencadeiam o processo projetual, foi levado em consideração também a matéria e sua relação com a paisagem, como sua forma final irá se manifestar e, principalmente, o modo em que ela ao mesmo tempo qualifica e delineia os novos espaços públicos, mas também transforma os já existentes.
No fim sempre teremos uma matéria solida, fixa e ativa, que deve manifestar-se como um símbolo urbano, identificado e adotado pela população da cidade.
O projeto nega a transferência literal de um programa ao afirmar o valor da interpretação do mesmo. Estabelecemos uma análise em vista do lugar e da leitura do edital do concurso.
- Valores de urbanidade: o compromisso de uma primeira ação neste território renovado é estabelecido através da biblioteca horizontal, ponderada em relação à geografia e à paisagem.
- Relação urbana na escala do processo: a estratégia de construção por etapas estabelecerá, em cada uma, ações adequadas e proporcionais em relação ao entorno existente e ao próprio edifício.
- Forte consistência funcional, através de integração de todos os setores da biblioteca internamente, e também um diálogo com os espaços públicos circundantes.
- Desagregar os estacionamentos: separados da construção principal, proporcionam maior segurança à biblioteca; além de racionalizar sua construção e sua viabilidade econômica, como a possível terceirização.
- Estabelecer valor arquitetônico referencial. Não buscamos o impacto visual de um objeto ostentoso, vinculado à arrogância de um individualismo exacerbado. Partimos da ideia de um suporte ativo em espaços de convivência com alta conectividade.
- Agregar forma ao futuro: Dentro dos múltiplos objetivos que desencadeiam o processo de projeto está a manifestação material como forma final. Sendo essa fundamental, pode qualificar e desvendar novos espaços públicos e induzir a forma do entorno no futuro.
- A estratégia de indução. A proposta pretende estabelecer junto com o Plano Diretor do Porto Maravilha, no setor da Gamboa, uma reflexão de projeto numa frente de privilégio e de diálogo com a cidade. A proposta, em sua implantação e em suas áreas livres, sugere diretrizes para posterior desenvolvimento imobiliário do entorno.
Para gerar essa imagem identificadora, pensamos que o edifício não tem que responder apenas uma questão, senão tem que manifestar e provocar outras.